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O RACISMO VELADO NO BRASIL
26/04/2021 - Jéssica Deisiane Benta Pereira*
*Estudante de Direito na PUC Minas.
O Jornal folha de São Paulo divulgou uma pesquisa segundo a qual a porcentagem de negros advogados nos grandes escritórios é menor que 1%1. Porém, estas grandes firmas de advocacia são espelhos da sociedade que, em pleno século XXI, é movida por parâmetros racistas. Dessa forma, refletir sobre o preconceito racial é mais que urgente na sociedade brasileira haja vista a naturalização do racismo estrutural que implica na escassez de negros ocupando cargos de alto escalão nas grandes corporações.
Existem algumas sociedades que foram estruturadas baseadas numa discriminação que privilegia determinadas raças em detrimento de outras. No caso da sociedade brasileira, o racismo estrutural, como é denominada esta prática, favoreceu as pessoas brancas negando que negros e índios também são atores sociais. A abolição da escravatura, que ocorreu por meio da Lei Áurea, aprovada no dia 13 de maio de 1888 com a assinatura da regente do Brasil à época, Princesa Isabel, decretou o fim da escravização de pessoas dentro do território nacional. No entanto, não foram criadas políticas públicas para inserir os escravos libertos e seus descendentes na sociedade.
Dessa forma, as pessoas negras, como não tinham acesso a moradia, saúde, alimentação de qualidade, estudo formal e um plano de inserção no mercado de trabalho, passaram a habitar os morros, nas encostas da Região Sudeste, formando as favelas. Para entender o processo de favelização da população negra, de inserção das pessoas afrodescendentes e pobres no espaço urbano, é necessário compreender a relação entre o território e as relações raciais nas grandes cidades.
Maria Nilza da Silva (2006) realizou um estudo sobre a segregação urbana racial na cidade de São Paulo, a maior metrópole do Brasil. As suas análises servem de parâmetro para o estudo das grandes cidades do sudeste que passaram pelo mesmo processo de urbanização segregacionista. Segundo a autora, “No período pós-abolição, o negro foi expulso das regiões centrais da cidade, privado do mercado de trabalho que se expandia com o impulso do desenvolvimento industrial, e foi ainda perseguido, pois era considerado símbolo do não-desenvolvimento e da não-civilização.” (SILVA, 2006, p.18). No período da escravidão, os negros residiam nas senzalas próximos dos senhores para servi-los. Em razão da abolição da escravatura, aos poucos eles foram expulsos das regiões centrais e migraram para as favelas ou para as periferias das grandes cidades. Os territórios negros eram locais onde eles podiam expressar-se livremente como também eram espaços de resistência (SILVA, 2006, p.16).
Sendo assim, entre o fim do século XIX e a primeira metade do século XX, o Brasil vivenciou uma grande onda de miséria e violência entre as pessoas negras recém libertas da escravidão. Com relação à população indígena, o período mencionado acima foi marcado por um grande número de invasões em suas terras e o desmembramento de suas aldeias.
Estas ações sistêmicas promoveram e sustentam até hoje a exclusão racial no Brasil. Para grande parte das pessoas é comum entrar em determinados ambientes e não encontrar negros. Outrossim, é naturalizado entrar em locais frequentados pela elite e encontrarem negros como serviçais. Ademais, o racismo nas corporações se manifesta, muitas vezes, nos Departamentos de Recursos Humanos, ou seja, na porta de entrada para os futuros colaboradores das empresas, os quais, muitas vezes, cumprindo determinação da direção, deixam de contratar homens e mulheres negros ou, caso sejam efetivados, o racismo se fará presente nas baixas remunerações recebidas.
Portanto, é muito importante incentivar o debate racial propondo para as pessoas um simples exercício, qual seja: avaliar o entorno e se questionar se, de fato, vivemos em uma sociedade pluricultural, na qual todos possuem as mesmas chances. Partindo do pressuposto de que o Brasil é um país estruturado pelo sexismo, racismo e patriarcado, os quais permeiam as relações de gênero e raça na sociedade, é muito importante que as corporações adotem ações afirmativas para coibir tais práticas e aumentar o número de mulheres e homens negros nos cargos de direção.
Por fim, vale ressaltar o papel da sociedade branca na transformação do racismo estrutural que será realmente superado quando brancos, a partir de seu lugar de fala, pautado por privilégios sociais, simbólicos, subjetivos e objetivos, juntarem-se com os negros em prol de um único objetivo, qual seja: evidenciar e denunciar o racismo existente em nossa sociedade, que se manifesta encoberto pelo véu do mito da democracia racial.
Referências
ALMEIRA, Silvio Luiz. Racismo Estrutural. São Paulo: Editora Jandaíra, 2019.
FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2003.
RIBEIRO, Djamila. O que é Lugar de Fala?. Belo Horizonte: Letramento, 2017.
1 SÃO PAULO, Folha. Negros são menos de 1% entre advogados de grandes escritórios, diz pesquisa. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/06/negros-nao-chegam-a-1-entre-advogados-de-grandes-escritorios-diz-pesquisa.shtml. Acesso em: 25 fev. 2021.
SILVA, Maria Nilza da. A Cidade Não é para Todos: segregação urbana e racial em São Paulo. Brasília, Fundação Palmares, 2006.
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